Notas florais




Notas doces e florais, cheiro singelo, porém sensual. Cheiro de quem saiu do banho. Limpinho. Frescor da juventude. Era o que deixava no corredor daquele prédio: um convite ao acasalamento. Seu cheiro doce contaminava como uma droga aquele ambiente. O toc toc do scarpin preto rosnava naquele piso velho amadeirado. Um vestido tubinho que marcava ainda mais a silhueta? As longas madeixas bem escovadas que reluziam em diferentes tons de loiro? O batom nude, olhos marcados, pele hidratada, os enfeites femininos:  colares brincos, um possível anel? Todos os  possíveis detalhes contribuíam naquela vislumbrante cena.
Ele podia sentir aquele cheiro quase comível de perfume de mulher.  O ruído insistente do sapato enquanto ela caminhava pelo corredor em direção as escadas. Contava mentalmente cada passo dela. Seu peso, sua idade, seus movimentos delicados  de mulher madura.
Já ouvira algumas vezes sua voz do outro lado da parede. Era fina, o que confirmava a teoria de que ela devia ser uma mulher  delicada e frágil. Certamente linda.
Ali caminhando em direção às escadas, ela parou. Por trás da porta, mantida propositalmente entreaberta, ele expiava sua vizinha. As roupas e acessórios eram parte de uma grande especulação. Exceto o cheiro do perfume doce e o toc toc dos pequenos pés.  
Ela mexeu na bolsa e pegou algo. Ele não soube dizer bem o que era. Seria um celular? Uma carteira? Ela desceu ruidosamente as escadas e saiu.
Ela tinha bolsa, pensou. Devia ser preta para combinar com o vestido, imaginou ele. Ele sempre gostava de imaginá-la no mesmo tubinho preto.
Teria que esperar seu retorno no fim do dia. Deixaria a porta entreaberta ate que ouvisse outro toc toc seguido do cheiro doce e mais fraco depois de todo um dia de trabalho.
Levantou-se lentamente detrás da porta mantendo-a ligeiramente aberta.  Procurou por sua bengala. Depois de alguns passou, tateou os velhos móveis já  conhecidos sentou-se no sofá para esperar a sua volta.




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