Biscoito de Chocolate




Eu e meu irmão quando éramos pequenos gostávamos muito de comer biscoito recheado de chocolate no lanche da tarde. Nem sempre minha mãe permitia, é claro. Muitas vezes ela nos enrolava e nos dava uma fruta um pedacinho de pão, um leite. 
As poucas vezes que ela nos permitia roer nossos biscoitos preferidos eram sempre marcadas por muitas brigas. Eu e meu irmão queríamos um biscoito inteiro e ela nunca nos dava. Aquilo me parecia injusto. Eu deveria ter a opção de comer até que não aguentasse mais. 
De qualquer forma, depois de muita conversa, aceitávamos (sempre) dividir ao meio nosso biscoito recheado. 
Lembro como se fosse hoje, porque dali tirei muitas lições. Ela contava com os dedos os pares de biscoito e com uma faca cortava o pacote ao meio. Que dó, eu pensava, porque metade do "meu" biscoito era do meu irmão.
Algumas vezes, para infelicidade dela, eu tenho certeza, a conta não dava muito certo e uma parte do biscoito ficava maior que a outra. Então, recomeçava a briga novamente e dessa vez pela parte maior...
Hoje parece bobo que duas crianças brigassem pela maior parte do biscoito, mas naquela época aquilo era realmente muito importante. Sabíamos que não poderíamos comer esse tipo de comida com frequência, então tínhamos que ter certeza que valeria a pena daquela vez.
Para acabar com a confusão, ela acertava as partes colocando o mesmo numero de biscoito em cada banda dividida. Não adiantava muito porque depois disto, sempre queríamos a parte que recebeu o biscoito, ainda que ambos os lados tivessem a mesma quantidade. 
Para piorar a situação, quando a conta da divisão das bandas era ímpar, ela comia um dos biscoitos da banda que tinha mais, de forma que ambas as partes cortadas somassem o mesmo número de biscoitos garantindo a igualdade.
Era irritante, injusto e triste esse processo no nosso ponto de vista. Torcíamos sempre para a conta ser exata e o processo de divisão justo. Na verdade até era, mas nós é que não entendíamos isso. A competição e o ciúme de irmãos nos cegavam e sempre achávamos que o outro tinha mais vantagem. 
Depois que crescemos é que entendemos que nem sempre a vida reparte nossos biscoitos em partes iguais. Uns ganham mais biscoitos que outros, sim. E isso se chama vida. Não há nada que possamos fazer para mudar essa realidade.
Só depois que você cresce é que abandona o idealismo da justiça e da igualdade. Minha mãe bem que tentou nos ensinar que eramos iguais e que receberíamos da vida a mesma quantidade de biscoitos, mas na verdade, nós nunca fomos iguais para ela. 
Cada um com sua peculiaridade e deficiência. Eu não entendia, mas muitas vezes nossa educação foi individualizada e adaptada de acordo com as nossas necessidades para nosso aprendizado e evolução. 
Hoje entendo que somos diferentes. Nem melhores nem piores, apenas seres únicos e por isso, distintos.
Quanto aos biscoitos recheados de chocolates, sim.... Ainda brigamos por eles, coisas de irmãos.



  

Comentários

  1. Maravilhoso, Vivi! Ah, Freud também explica essa competição eterna entre irmãos...

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