Desespero




Aquela  vontade inconveniente sempre aparece nas horas mais complicadas, impossíveis e difíceis mesmo.

Ele afrouxou o cinto de segurança liberando mais espaço na barriga. Se contorceu um pouco, respirou fundo, gemeu. Pediu ao colega para acelerar o carro. Repetia para si mesmo: já estou chegando... Não adiantava nada.
Novamente se mexeu no banco do carona. Não sabia se ficando ereto ou se largando na cadeira podia melhorar alguma coisa. Aquilo ardia. Vontade louca, incontrolável de sair correndo. 
Xingou um palavrão. Um não, muitos. Amaldiçoou o colega que ria da sua desgraça. Quis matar a velhinha que demorava a atravessar a rua. Ardendo, pensava. Já está ardendo. 
O cego que insistia em atravessar com o sinal verde o tirou do sério. Xingou novamente o colega que freava muito, andava pouco. 
Fechou os olhos contou até cinquenta.
Gritou: para ali, para ali!
Correu para o banheiro bateu a porta. Bexiga cheia. Ardendo. Não deu tempo de passar o trinco: maldição, pensou. 
Olhos lacrimejando, arrepios, alívio instantâneo... Agora sim podia continuar a viagem. 
Fechou a barguilha. 
Pensou se lavaria as mãos. 
Saiu.

Comentários

  1. Ótimo texto! Sem muitas palavras enfeitadas, divertido e interessante. Para ler de um só folego!

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